Da velha à nova MPB: o que mudou na música popular brasileira

  • 18/02/2020
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Da velha à nova MPB: o que mudou na música popular brasileira

Com o nome de música popular brasileira, considera-se que a MPB surgiu em meados dos anos 60, filha da bossa nova e fortemente influenciada pelo folclore brasileiro.

O gênero envolve alguns dos músicos mais geniais que passaram pela nossa história e, sem dúvidas, revolucionou a cultura do Brasil.

Cantores MPB

 Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil / Créditos: Divulgação

Hoje, outra geração de artistas leva o nome de nova MPB: de Tiago Iorc a Maria Gadú, a música popular brasileira segue tendo nomes importantes e fazendo barulho em festivais afora.

Mas será que ainda é aquela MPB de antes? O que será que essa galera nova trouxe de diferente para o gênero? Afinal de contas, o que é a nova MPB?

Tiago Iorc e Maria Gadú, cantores da nova mpb                                                                                                                   Tiago Iorc e Maria Gadú / Créditos: Divulgação

Com tantas dúvidas no ar, o texto de hoje está aqui pra te ajudar a entender melhor a música popular brasileira.

Vamos pensar um pouco sobre essas questões que envolvem a MPB, tanto a velha quanto a nova. Vem com a gente!

Por que chamamos de nova MPB?

É claro que o gênero está diferente: a sociedade brasileira mudou muito, seus gostos e expressões artísticas também.

O nome nova MPB é bastante contestado e polêmico, porque coloca artistas novos em um lugar de comparação com grandes nomes da música brasileira, que já conquistaram um lugar especial na MPB.

A ideia de novo e velho faz parecer até que uma geração entrou no lugar de outra, o que não é verdade. Afinal, como chamar Caetano Veloso de velha MPB se ele segue em plena atividade, colaborando com inúmeros artistas jovens?

Assim como muita coisa no universo musical, talvez o problema seja simplesmente a categorização. O termo música popular brasileira tem lá suas questões pra início de conversa, né?

A nomenclatura de gêneros sempre causou polêmica de diversos tipos: colocar formas de arte em caixinhas rende muitas problemáticas. Afinal, o que é popular? O que faz de um artista parte da MPB?

Ao contrário de alguns outros gêneros, a MPB não tem características definidas — não é como o rock, que a gente já pensa na guitarra; não é como o samba, que a gente já pensa no violão e no cavaquinho.

O nome MPB não diz tanto respeito à sonoridade do estilo: pra gente, pelo menos, MPB é a música cheia de brasilidades que orbita entre o pop e vários outros estilos.

Além do mais, é uma tendência nossa colocar um artista inteiro em uma caixinha quando, raramente, ele é uma coisa só. É justamente essa transição entre os estilos, a versatilidade e a vontade de trazer novos sons que nos faz ser fãs de determinadas pessoas.

Por essas e outras, temos que tomar cuidado com o nome que damos pras coisas.

Já que a história de nova MPB pegou, a gente usa o nome. Mas é importante lembrar que não queremos comparar uma geração com outra, porque existem fatores sociais, políticos e econômicos que diferenciam muito os dois movimentos.

Diferenças importantes entre o velho e o novo

Pra falar das MPBs, é fundamental levar em consideração algumas diferenças entre as gerações.

Por exemplo, o contexto político da década de 70 foi vital pra que a música popular brasileira fosse o que foi: se muitas canções de Chico tem letras complexas e cheias de duplos sentidos, vale lembrar que esses artistas não tinham outra opção para se expressar em tempos de censura.

Artistas da MPB em protesto contra a Ditadura Militar Artistas da MPB em protesto contra a Ditadura Militar / Créditos: Divulgação

Muitas das nossas referências da velha MPB vêm de momentos tensos, em que a música servia como um protesto aflito contra o que acontecia no Brasil. Por isso, não vale compararApesar de Você com Quando Bate Aquela Saudade, certo?

Além disso, o cenário musical mudou como um todo: é impossível ignorar a ascensão de gêneros como o funk, o rap e o sertanejo universitário, por exemplo.

Na mesma medida, o rock era um dos maiores expoentes mundiais na época em que a velha MPB surgiu, além da própria bossa nova, que deu raízes ao movimento.

Esse cenário sempre influencia os artistas, que “bebem da fonte” de toda a expressão musical em sua volta. A MPB sempre foi um gênero híbrido, com toques de várias outras artes brasileiras — e é por isso que a gente adora!

A velha MPB

Essa é a parte que todo mundo sabe e conhece, né? Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Jorge Ben, Gal Costa, Tim Maia e muitos outros artistas.

O gênero surgiu a partir da bossa e de outros elementos do folclore brasileiro, mas, aos poucos, foi se diversificando com influências de todo canto.

Rock, samba, soul, reggae e diversos outros gêneros fizeram parte da trajetória da MPB. E claro, a história da música popular brasileira foi marcada também por movimentos significativos, como o da Tropicália.

Como todo grande gênero, sempre existiram discussões de quem merecia o título de MPB ou não.

A mídia sempre insistiu em determinados padrões estéticos e teve preconceito com alguns estilos e formatos (letra de música não precisa ser um poema parnasiano, né?).

Um exemplo eram os artistas voltados ao brega, como Odair José, Sidney Magal e mais. A própria Jovem Guarda também é polêmica a esse respeito — pertence ou não à MPB?

Jovem Guarda Créditos: Divulgação

Independente do que é considerado oficialmente MPB, a cultura brasileira foi revolucionada pelo gênero.

A nova MPB

Hoje, não existe um Tropicalismo nem um movimento tão aparente na MPB, mas há vários paralelos que a gente pode observar pra conhecer a galera nova como um todo.

Dos principais nomes da nova MPB hoje em dia, notamos algumas fortes influências e relações entre eles.

Como mencionamos antes, a hibridez da MPB permanece.

E dá pra ver claramente como os gêneros andam se misturando: com Duda Beat, a MPB leva uma pegada mais brega e carrega um olhar pernambucano; já a dupla Anavitória tem um quê de rural, meio folk, que flerta com o sertanejo raiz. A força do rap nacional também não passa batida: os grandes Criolo e Emicida mantêm os pés no rap, mas brincam de fazer samba e MPB com frequência.

Tem outros pequenos traços marcantes entre alguns artistas: por exemplo, o jeito de cantar à la Mallu Magalhães.

Curiosamente, dá pra traçar uma linha histórica até lá na bossa nova, quando João Gilberto e seus colegas começaram a cantar baixinho, quebrando o padrão de canto da época. Afinal de contas, imagina se Garota de Ipanema fosse cantada daquele jeito bem lírico anos 50?

Esse jeitinho de cantar-falado virou estilo e rendeu uma sonoridade meiga, que acompanha vários dos nomes da nova MPB.

A própria Mallu, em seu projeto solo e também na Banda do Mar, com Marcelo Camelo, é expoente desse estilo, que conta com Cícero, Clarice Falcão, Phill Veras e mais.

Nem a música de protesto, muito forte na velha MPB, sumiu completamente: na verdade, os clássicos seguem sendo reinventados e sempre há causas para defender.

Hoje, uma fração significativa da MPB fala abertamente de questões sociais e se posiciona claramente. Nomes como Liniker, Johnny Hooker e Jaloo fincam o pé em letras fortes e músicas incríveis pra não deixar a MPB sem protesto.

Afinal, para onde vai a música popular brasileira?

Dá pra encarar a MPB como um estilo musical quase imortal: justamente por ser tão híbrida e mutável, ela pode ser o que a gente quiser.

Afinal, uma das maiores tendências na música brasileira hoje é simples: a parceria!

Em uma época em que os artistas não parecem ter medo de atravessar gêneros e colaborar com outros músicos, é muito provável que a MPB continue se reinventando e pegando um pouquinho de cada estilo. O funk é brega, o sertanejo é pop e a MPB é tudo isso e um pouco mais.

Caetano Veloso e EmicidaCaetano Veloso e Emicida / Créditos: Divulgação

Com a benção dos grandes, muitos dos novos artistas estão trazendo novas sonoridades super brasileiras, com estéticas bem autênticas. E não tem faltado festival pra estimular shows incríveis pra gente e proporcionar o encontro e a troca de figurinhas entre a velha e a nova MPB.

A MPB é toda nossa, brasileiríssima. Assim, é muito mais legal valorizar o que a MPB vem trazendo de bom e de novo do que ficar preso só nos ícones do passado.

E, afinal de contas, tem muito músico bom por aí hoje em dia, compondo canções que podem ser os próximos grandes clássicos. A gente garante: é só fuçar que você vai achar um artista da nova MPB que é a sua cara!

Nova MPB

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